Era uma vez um povo que, no pós-25 de Abril e principalmente nos anos 90, viveu de sonhos e enebriado, pensando que vivia na fausteza e que o tempo das "vacas gordas" nunca iria terminar. Por isso era ver a compra de casas - 1ª e 2ª habitação - as férias, a compra de carros, a ida aos restaurantes, almoçar, jantar, lanchar, tomar o pequeno-almoço. Os bancos facilitavam o crédito, reduziam o spread, davam cartões de crédito, e deixaram cair o discurso da poupança. Esse povo vivia feliz porque tinha dinheiro, porque podia mostrar aos outros povos o quão bem estava na vida. Não era à toa que tinha sido apelidado de "melhor aluno da Europa". Tudo era vivido "à grande e à francesa" (mas os franceses eram mais comedidos...) Faziam-se exposições mundiais, que obrigavam à construção de pontes, inauguradas com pompa, circunstância e uma mega-feijoada e que tinham marinas que não tiveram sucesso nem qualquer uso. Construíam-se "mamarrachos" à frente do rio, na zona de Belém, com gastos exorbitantes. Faziam-se Auto-Estradas, algumas sem portagens, diminuíam-se os impostos, aumentavam-se os benefícios fiscais... tudo corria às mil maravilhas! Os políticos diziam que tudo corria bem e que éramos um grande povo! Era Portugal no seu melhor, a deixar o século XX, a entrar no século XXI e no sistema monetário "Euro".
Mas, de repente, tudo se desmoronou. Afinal, as contas do déficit estavam erradas, governos começaram a cair - ou primeiros-ministros largaram o país e esse povo e foram pregar para outras freguesias, cuidando da sua vidinha - e outros governos começaram a aparecer a dizer que "o país está de tanga", as vacas começaram a emagrecer, e, de repente, o povo que outrora vivia feliz e cheio de crédito, deprimiu, começou a olhar para as dívidas que contraíu e para os rendimentos que não tinha para pagar essas dívidas; começou a aperceber-se que gastou para lá da conta. Os bancos também cortaram no crédito (mas sem qualquer prejuízo para eles mesmos, pois os lucros continuaram a aumentar e os custos a reduzir). O povo então começou a ver que tinha sido iludido, pois enquanto "pagava o pato", os ilusionistas do costume continuavam na maior. Uns em instituições europeias, outros em empresas privadas, mas todos sem sentir directamente na pele os efeitos de uma crise anunciada.
E eis-nos chegados à segunda década do século XXI! Hoje esse povo vive à rasca, sem emprego, sem dinheiro, sem casa (nem 1ª ou 2ª habitação), sem crédito, com muito débito, sem perspectivas de futuro! Portugal afundou, bateu no fundo, e infelizmente quem se trama é o mexilhão. Enquanto isso, os senhores políticos andam em lutas estéreis, a discutir PEC's e afins, mas todos a tentar zelar pelo seu bolso e nada mais.E o povo? O povo anda a contar tostões e de marmita na mão...