O Blog da Escorregadela intelectual (versão 2.0)

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Ago 08

Sábado, 22h30m, 09 de Agosto, Baixa Lisboeta!

A baixa pombalina estava ao rubro: turistas (nacionais e estrangeiros) aos milhares; esplanadas cheias e a Rua Augusta com tanta gente que parecia a IC19 à hora de ponta. Logo ali ao lado, no Terreiro do Paço, decorria o encerramento do Festival dos Oceanos.

O cenário fotográfico perfeito! Bem, quase perfeito. Depois desta primeira impressão, o olhar começa a fixar outros pormenores e é nesse flash que o nosso orgulho lusitano começa a esmorecer. O chão de uma das mais bonitas ruas da nossa capital estava imundo: papéis, jornais, garrafas de água vazias, sacos de plástico…. nas esquinas, caixotes e sacos de lixo de todos os géneros e feitios! A ineficácia dos serviços municipais de limpeza é latente e a falta de brio de quem trabalha e explora as esplanadas e estabelecimentos comerciais é vergonhoso!

No entanto, mesmo com este cenário dantesco, o pior ainda estava para vir. Tentando ignorar a imundice e continuando a caminhar em direcção ao rio, sou abordado por um indivíduo que me disse umas palavras que me pareceram soar a “tás fixe?” De imediato pus-me a pensar de onde o conheceria…. Bastaram dois curtos minutos para perceber que não fora nada disso que ele me perguntou pois logo a seguir sou novamente abordado por um outro “colega seu” e aí sim, entendi perfeitamente o que me perguntavam: com a mão aberta e a expor um qualquer produto, pergunta-me se quero haxixe?

Estava mais ou menos a meio da rua e até ao Arco do Terreiro do Paço sou abordado mais três vezes com a mesma oferta. Discretamente vou olhando para trás e constato que a mesma pergunta é feita a todos os que passeiam como eu!

Procuro um agente de autoridade. Na esquina no Banco de Portugal estão dois agentes da PSP e mais dois Policias Municipais montados em Segways. Ignoravam tudo o que os rodeava!

Já no Terreiro do Paço, as pessoas amontoam-se junto ao palco procurando o melhor spot para verem e ouvirem Craig David, o artista da noite! Ainda chocado e envergonhado com o cenário vivido minutos antes, dirijo-me a uma concentração de polícias. Seriam uns 20, todos juntos e à conversa. Exponho a um deles o que vivi uns metros atrás e pergunto-lhe se o mercado de estupefacientes foi liberalizado? Não me pareceu surpreendido nem preocupado. Reencaminha-me para outro colega que se encontrava a uns 40 metros, também ele numa amena cavaqueira e rodeado por outros tantos colegas. Nada feito! À boa maneira do funcionalismo público, informa-me que estão ali porque foram contratados pelo promotor do evento e que o melhor seria deslocar-me à Esquadra da PSP para apresentar reclamação.

No caminho, questiono-me se com tantas reformas na Administração Pública, nenhum Ministro teve a coragem de informar os Portugueses que o significado das siglas P.S.P. foi alterado para “Policia de Segurança Privada” ou se a comunicação social não terá dado a necessária importância a esse comunicado?! Terei eu estado distraído?!

Depois de entrar na dita esquadra de polícia, o oficial de serviço diz-me que fará todos os possíveis para enviar dois agentes à Rua Augusta, mas considerando a falta de homens ao serviço(?) naquela noite isso seria muito difícil, pois os cerca de 40 agentes que pareciam estar a trabalhar em prol da segurança pública, afinal estavam a prestar um serviço gratificado.

Finalmente, e talvez para se sentir melhor com ele próprio, o dito agente informa-me que o que me tentaram vender não é haxixe, mas sim uma mistura caseira de louro e que, por essa razão, os supostos traficantes não poderão ser detidos.

Sinto uma tristeza e uma desilusão!

Uma polícia vendida a quem a pode pagar! Uns supostos traficantes a venderem gato por lebre!

Ao sair da esquadra procurei em redor por um agente da ASAE…. que falta de sorte! Desisti e gritei bem alto: AGARRA QUE É LADRÃO!!!

Alguém pergunta, onde, onde?

Tenho vontade de responder: em qualquer um dos ministérios ali sediados, mas em silêncio, volto para casa com a certeza de que batemos bem no fundo e que este é o estado no nosso Estado de Direito! Um Estado inerte, acomodado, desanimado e sem soluções para quem cumpre com as suas obrigações de cidadão!

Mr. Hellmanns às 12:56

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