O Blog da Escorregadela intelectual (versão 2.0)

08
Mar 10

Supostamente, hoje, comemora-se o Dia Internacional da Mulher. E eu pergunto,mas é só hoje que se comemora? Porque não se comemora todos os dias?

Eu sou anti-dias de qualquer coisa... creio que os mesmos não têm significado se não dermos esse significado todos os dias. Hoje, os homens vão fazer grandes homenagens às suas mulheres (mães, namoradas, esposas, amigas...) e nos outros dias? Hoje lembramo-nos de como as mulheres são umas batalhadoras, são mães, amigas, mulheres, trabalhadoras numa só pessoa; que merecem o melhor do mundo; bla, bla, bla...

Sou mulher e sinceramente este dia nada me diz! Desculpem a sinceridade. Prefiro que no dia-a-dia me respeitem enquanto mulher, mas principalmente enquanto pessoa e que se lembrem disso todos os dias, do que ter um dia específico. Também abomino dia do pai, da mãe, da criança, dos namorados, dos avós, do idoso, do cão, do gato, do periquito... pronto, não gosto de um dia, gosto de todos os dias!

Tudo seria diferente se não tivéssemos de celebrar um só dia (esquecendo-nos de celebrar a efeméride desse dia nos restantes 364 dias do ano,) se nos lembrassemos todos os dias das pessoas...

No entanto, e para não parecer tão cretina em relação a este dia, vamos lá saber a origem do dito...

O Dia Internacional da Mulher tem a sua origem nas lutas femininistas do séc. XIX. Quando se deu a 2ª Revolução Industrial, e as mulheres começaram a trabalhar nas fábricas, não tinham qualquer tipo de direito. Ora, muher que se preze não se cala perante as injustiças e daí até começarem as reivindicações foi um pulinho. As mulheres juntaram-se e manifestaram-se por melhores condições. E é assim que, em NY (muito antes do Sexo e da Cidade aparecer), em 8 de Março de 1957, mulheres trabalhadoras fabris se manifestaram e reivindicaram os seus direitos.

Depois de muitas lutas, na viragem para o séc. XX,  foi instituído o dia, que não coincidiu durante muito tempo com o 8 de Março. O 1º dia a ser celebrado foi em 28/02/1909. O 8 de Março passa a ser institucionalizado a partir de 1975, data em que as Nações Unidas adoptam este dia para assinalar as lutas das mulheres.

Ao longo da História, várias mulheres aparecem como grandes figuras. Até em termos Bíblicos a mulher tem um papel preponderante (mas aqui, e perdoem-me os que comigo não concordam, a mulher aparece como uma pecadora ou alvo da cobiça e do pecado, salvo a N.ª Senhora, mãe de Jesus...). No entanto, e apesar da existência de grandes mulheres na História, à mulher nunca foi reconhecido estatuto igual ao do homem. Basta aliás ver o que se passa na actualidade, demonstrando as últimas estatíticas que há mais mulheres a trabalhar e muitas no topo mas que recebem menos que os homens nos mesmos cargos...

Por isso considero o Dia Internacional uma hipocrisia, porque, diariamente, as mulheres lutam para serem tratadas como iguais. A mulher é logo tratada de forma diferente numa entrevista de emprego quando de forma velada, muitas vezes, se pergunta à candidata se tem família, filhos pequenos, grandes, se pretende engravidar... depois, à mulher não é admitida uma falha na lide doméstica, no tratamento da família, mesmo que tenha uma carreira, seja uma executiva de topo - a função da mulher é a família e a casa e só depois o trabalho, dizem alguns, pensam quase todos... É cultural! É-nos intrínseco.

No entanto, creio que há uma mudança e isso vê-se ao passarmos os olhos pelos jornais e ao deparar-nos com a quantidade de mulheres que aparecem como Chefes de Estado ou de Governo ou com grandes papéis na vida política dos países. Ainda agora tivémos o exemplo da Presidente do Chile - Michelle Bachelet - incansável no apoio às vítimas e na resolução dos problemas causados pelo violento terramoto. No poder e como Presidente temos também, na América do Sul, Cristina Kirchener, presidente da Argentina. No Brasil, Lula da Silva apresenta como sua sucessora no Partido Trabalhista e, qui ça, na Presidência, Dilma Roussef. Em Portugal temos 3 ministras, a da Cultura, a do Ambiente e a da Saúde e temos, até ao momento, uma presidente de um partido. Não poderei também esquecer a nossa 1ª e única Primeira-Ministra, Maria de Lurdes Pintassilgo, já falecida. Já para não falar de todas as mulhes, incógnitas, que por mim passam todos os dias, que com certeza são mulheres de grande valor e que se esforçam por ser felizes mas principalmente para fazerem felizes quem os rodeia.

Não há dúvida que a Mulher é um ser fantástico, e por isso digo que, não basta um dia no ano para assinalar o quão fantástica é a Mulher, para mim, todos os dias são dias da Mulher!... e espero que todos se lembrem disso!

Ms. Brown às 12:05

6 comentários:
Sem dúvida!
Infelizmente, tem SEMPRE que ser uma mulher a escrever isso.
Se for um homem a dizer a mesmíssima coisa, passa por machista ou saudosista.
rodrigo ribeiro a 8 de Março de 2010 às 15:36

SERÁ ESTE UM DIA ESPECIAL?

A mulher é certamente especial! Atrevo-me a iniciar o meu texto com esta afirmação.

Existem muitas mulheres infelizes por este mundo fora. Sofrem por motivos familiares, culturais, sociais, ideológicos, económicos e muito mais...

Lembrar o dia da mulher pode ser mais uma pequena achega à luta de muitas que continuam a acreditar que o mundo pode ser mais justo com elas.

As iniciativas e comemorações que se realizam um pouco por todo o lado e por todo o mundo onde existem direitos humanos, lembrando mulheres que lutaram e ganharam visibilidade e mérito, certamente vêm dar ânimo aquelas que continuam a procurar justiça, liberdade e amor.

A mulher ocidental está numa posição cómoda porque ao longo dos tempos, conquistou alguns direitos e emancipou-se. Existem zonas do mundo de tal maneira cruéis com as mulheres que nos levam a crer que esta luta está no início.

Caberá às Nações Unidas uma grande tarefa nesta luta, mas também certamente a cada país e a cada um de nós.

Havendo ainda um caminho por percorrer, vale a pena lembrar a MULHER, não com ofertas nem presentes, mas com reflexões e atitudes.

Se lembrármos o dia da mulher olhando mais para fora e menos para dentro, encontraremos mais do que justificações para comemorar.

Confesso que fico revoltada com a minha própria comodidade, que me impede de dar um contributo maior neste dia e nesta causa.

Lembro a recente coragem de uma mulher, Aminetu Haider, que colocou em risco a sua vida em nome da independência do seu país, Sara Ocidental.

A título de desabafo, confesso também que me irritam os dias do namorado, da avó, do pai, da mãe e outros que não me lembro agora…
Memina Scarlett a 8 de Março de 2010 às 15:59

O mundo era realmente muito melhor se não fosse necessário existirem Dias Mundiais... mas ainda é preciso, nem que seja para fazer contas e compreender que ainda há desigualdade entre homem e mulher, principalmente no que diz respeito a direitos e reconhecimento no Trabalho.

A nossa sociedade mediterrânica, latina e fundada nos princípios cristãos também tem muito que aprender no que diz respeito ao papel do homem e mulher na família... Neste caso acho que nós mulheres também temos que fazer um esforço e ensinar os homens das nossas vidas (pai, marido, irmão e filho) a viver a ideia de igualdade em casa!

Igualdade de direitos, de responsabilidades, de reconhecimento mas também de alegrias!
Mrs F a 8 de Março de 2010 às 18:15

epah sou mulher e este dia tambem não me disse nada...
Ania a 11 de Março de 2010 às 02:48

Desde já gostaria de a felicitar pelo excelente blog - Sem dúvida merecedor dos destaques do sapo :)

Eu pergunto-me exactamente o mesmo: As mulheres trabalham, lutam e esforçam-se desde sempre, todos os dias. Todos os dias têm de lidar com trabalhos que "homem não faz" e com rejeições injustificadas.
É também todos os dias que a mulher vive, é feliz, cuida de si e da sua família .. Então para quê celebrar as mulheres num único dia ? Porquê não celebrar os homens também, já agora ?

"Celebramos" coisas a mais, que até nos esquecemos delas. É fantástico.

Tenho um blog do género do seu, ficaria muito honrada se o visse e pudesse deixar a sua marquinha: http://the-art-of-seeing.blogs.sapo.pt

mafaa
mafaa a 11 de Março de 2010 às 21:42

Agradeço os comentários e os elogios ao blog. MAFAA, só um pequeno esclarecimento: o blog não é só meu, aliás já existia antes de mim, eu sou só a última aquisição, mas sem dúvida merece o destaque que lhe foi dado, por todos os textos aqui colocados pelos Maionésicos, pelo interesse, pela curiosidade que suscitam. Irei com toda a certeza visitar o seu blog e deixar lá o meu comentário quando se mostrar útil.
Quanto à celebração de um Dia específico - seja o da mulher, da criança, do pai, da mãe, dos namorados... - concordo que não deva ser necessário festejar, individualizar, mas também não posso deixar de concordar com Mss F ou Menina Scarlet que apresentam bons argumentos a favor de um Dia especial para nos lembrarmos dos problemas que subsistem. Infelizmente, no Dia da Mulher li a notícia de que mais uma mulher foi assassinada pelo seu marido que, bêbado e cheio de ciúmes, a foi buscar ao trabalho e a esfaqueou inúmeras vezes. Também foi no Dia da Mulher que o Violador de Telheiras foi apanhado... ironia do destino, não é?
A minha opinião é que todos os Dias nos devíamos lembrar dos direitos humanos - das crianças, das mulheres, das minorias, dos idosos, etc. Todos os dias devíamos respeitar-nos mutuamente; ajudar-nos e vivermos como iguais...
A celebração de um Dia específico perdeu muito o seu significado e comercializou-se. As inúmeras mensagens escritas que recebi no meu telemóvel para comprar óculos a 40% do preço, roupa, aproveitar massagens e afins, por ser o Dia da Mulher, demonstram o quão comercial está esse dia. Como também o está o Dia do Pai, da Mãe, da Criança...
O meu texto ia nesse sentido crítico. Por mim, todos os dias irei lutar pelos direitos de todos, do ser humano e assim todos os dias são DIA!
Ms. Brown a 11 de Março de 2010 às 22:40

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